quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Educar, passar conhecimento, cativar e como a Carlota descobriu Zeca Afonso

Um dos meus maiores prazeres enquanto mãe, neste processo complexo de educar uma criança, é ensinar, ou melhor passar conhecimento. Sempre gostei de ensinar coisas às minhas filhas. Seja uma música, a coreografia de canções infantis, significados, conceitos... Embora confesse que muitas vezes fico quase sem resposta, este é um desafio que se agiganta na mesma proporção em que os filhos crescem e nos desafiam.
Tudo isto para dizer que ontem, sem querer, a minha filha mais velha transformou a hora da leitura num momento especial que me ficou gravado no coração (e espero que na memória dela).
Ontem para a leitura antes de dormir, a C. escolheu um livro de uma colecção sobre momentos históricos adaptados a livros infantis, mais precisamente, o livro dedicado ao 25 de Abril.
Eu sempre disse que se tivesse uma máquina do tempo, o momento histórico que gostaria de visitar e viver seria o 25 de Abril de 1974. Talvez por influência dos meus pais, por ter crescido com o carinho por esta data histórica para Portugal, a Revolução dos Cravos é para mim uma data incontornável.
Voltando ao livro, logo nas primeiras páginas, descobrimos a letra completa do «Grândola vila morena». Eu comecei a cantar-lhe a música e ela gostou. Lembrei-me então que vivemos na era da Internet e lembrei-me de usar o youtube para um momento mais pedagógico do que lúdico e fomos à procura da voz do Zeca. Voz que me arrepia. Sempre.


Para meu espanto, a C. ouviu a música atentamente até ao fim, acompanhando a letra no livro. Lamechas me confesso, mas aquele momento marcou-me. Eu, em terceira geração deste momento histórico, estava a conseguir captar a atenção da minha filha para este marco histórico que, com muita pena, vou constando que vai sendo, talvez não esquecido, mas esbatido na sua importância.
Foi este marco, que os portugueses souberam fazer de forma pacífica, que nos trouxe o país que hoje somos. Claro que há ainda muito a fazer, temos muitas falhas, estará muito do sonho deste dia por concretizar, mas a minha profissão não existiria hoje se não fosse esta data. Provavelmente não teríamos a liberdade de ter um blog e nele escrever o que nos apetece. Como nos apetece.
Fomos ainda descobrir o «Depois do Adeus», que a C. quis ouvir também numa versão com a Marisa Liz no «The Voice Portugal». Mas tudo bem, a intenção está lá. A nossa cultura e memória colectiva vive ali também.
Gostei especialmente que numa altura em que as crianças nascem já com imediatismo da televisão, dos computadores, dos smartphones, a minha filha goste de aprender pelos livros, pelo que lhe conto.
Espero conseguir continuar a educar as minhas filhas passando-lhe os meus conhecimentos, valores e as memórias de tempos que também não vivi, mas que conheci pelas palavras e sentimentos dos meus pais, pelos livros. Pela vida.

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